terça-feira, 3 de março de 2009

Fernando Lyra sobre Tancredo: São Paulo só pensa em São Paulo

Os paulistas só pensam em São Paulo.
Não é justo, portanto, que São Paulo - com o poder econômico que tem - também controle o poder político.
Esse princípio orientou a formação do que seria o Ministério de Tancredo Neves.
Tancredo se recusou a dar o Ministério da Fazenda a Olavo Setubal, dono do Banco Itaú, prefeito de São Paulo, e candidato ostensivo ao Ministério da Fazenda.
Tancredo considerava que ele, o Presidente Tancredo, tinha que ter o controle pessoal sobre duas pastas: a Economia e a Justiça, que Fernando Lyra ocupou.
Essas são algumas das revelações do livro “Daquilo que Eu Sei”, que Fernando Lyra lança na segunda-feira (16/03), em Recife, provavelmente na companhia do neto de Tancredo, Aécio Neves.
Em entrevista por telefone a Paulo Henrique Amorim, o ex-deputado e candidato a vice-presidente na chapa de Leonel Brizola, Fernando Lyra discutiu as idéias de Tancredo que ele reproduz no livro.
“Tancredo escolheu o banqueiro Olavo Setúbal para o Ministério das Relações Exteriores, porque não queria um paulista no comando da economia”, disse.
“São Paulo não poderia ser o que é e ainda comandar o Ministério da Fazenda”, completa.
Foi por esse motivo que Tancredo escolheu Francisco Dornelles – seu sobrinho – para chefiar a área econômica.
Com isso, o próprio Tancredo seria o ministro de fato, segundo Lyra.
“O problema desde aquela época já era São Paulo”, lembra o autor.
E esse quadro não mudou, pois a disputa pela sucessão de Lula envolverá o PSDB e o PT, partidos que, a rigor, não existem fora e São Paulo.
Aécio não é PSDB – diz Lyra. Aécio é mineiro.
Por isso, segundo Lyra, o paulista José Serra evita as prévias que Aécio defende.
Porque Serra não quer se submeter ao escrutínio nacional, justamente por ser paulista.
“Aécio poderá nesse período se tornar mais nacional do que o Serra”, afirma Lyra.
Para Lyra, não é só Aécio, nem foi só Tancredo quem teve a percepção de que era preciso afastar São Paulo do controle político - se já tem o controle da economia.
Isso é uma percepção de todo brasileiro, diz Lyra.
Todo brasileiro que tem a visão de que é preciso criar um contrapeso ao poder econômico de São Paulo.
Porque São Paulo só pensa em São Paulo, diz Lyra.
São Paulo não pensa o Brasil.
“Nós admiramos São Paulo, que é o ponto alto do desenvolvimento econômico brasileiro. Eu não tenho nada contra São Paulo, mas os paulistas não podem ser donos do Brasil”, completa Fernando Lyra.

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